Na minha jornada profissional, sempre busquei desafios e oportunidades de aprender, fazer diferença e contribuir com o mundo. Eu me considero uma mãe em eterno processo de estágio, mas divido aqui com vocês como eu venho equilibrando minha rotina (e o que tem dado certo e o que tem dado não tão certo assim também)
Por que você trabalha?
Ainda pequena, uma das minhas filhas me perguntou por que eu trabalhava tanto. Na hora eu dei uma resposta pronta de que esta era a única forma de proporcionar o melhor para elas. Claro que não é só sobre isso.
Eu trabalho porque eu gosto. Estou sempre envolvida em projetos que eu acredito e que geram valor para a sociedade. O trabalho é o que proporciona à mulher a liberdade e a autonomia para fazer suas próprias escolhas. E quero que a Carol e a Stella cresçam com a oportunidade de serem o que quiserem ser.
Reconheço meus privilégios. Sempre tive uma rede de apoio que me permitiu conciliar carreira e maternidade. Infelizmente, não é o que acontece para a maioria das mulheres mães no Brasil. Dados da segunda edição do estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o nível de ocupação entre as mulheres de 25 a 49 anos com filhos de até 3 anos de idade é de 54,6%. A proporção de homens na mesma faixa etária e com filhos é de 89,2%. Apesar de evoluirmos na equidade de gênero, as mulheres ainda precisam dedicar quase o dobro de tempo nos cuidados pessoais ou afazeres domésticos. Conciliar essa rotina injusta força muitas profissionais talentosas a reduzir a jornada de trabalho.
Desconstruções da maternidade
A maternidade é um grande tsunami que vira a vida de ponta-cabeça. É uma transformação que envolve seu corpo, sua casa, sua logística, suas estruturas e o seu tempo.
Eu liderava um processo de ampliação internacional da Cia de Talentos quando minhas filhas nasceram. Por estar à frente do meu negócio, eu escolhi não parar. Amamentava em casa, enquanto assinava contratos e conduzia reuniões com a minha equipe.
O crescimento profissional não acontece da noite para o dia. É preciso uma dedicação além das 8 horas por dia para fazer entregas excepcionais. Soma-se a isso os extras de estudo e de preparação. Este era o lugar que eu estava acostumada a estar: buscar sempre estar entre as melhores naquilo que eu fazia.
Tenho orgulho das minhas conquistas. Fiz uma transição de carreira aos 38 anos após dedicar boa parte da minha vida à Cia de Talentos. Eu precisava honrar minha trajetória e as pessoas que me ajudaram a chegar até ali e até hoje permaneço no Conselho da empresa. Fui para a Adtalem iniciar minha história no mundo da educação, e hoje estou aqui no Inteli contribuindo para formar os líderes do futuro.
Tudo isso acontecia ao mesmo tempo que as minhas filhas cresciam. E aí eu fui entendendo que não dá para ser a melhor profissional, a melhor mãe, a melhor amiga, a melhor namorada e a melhor cidadã ao mesmo tempo. Você precisa acordar de manhã e decidir qual será o seu foco de dedicação naquele dia. Mas como viver em paz com o fato de não estar sempre entre os melhores quando este sempre foi o seu objetivo?
Faça o seu benchmarking no lugar certo
As redes sociais representam um recorte estratégico do que é lindo e perfeito em nossas vidas. Todo mundo parece feliz ao lidar com as tarefas diárias ao mesmo tempo que se equilibra em um salto alto. Não dá para buscar inspiração em quem não vive a mesma realidade do que você.
Eu me considero uma profissional pior toda vez que eu me comparo às mulheres que não têm filhos e se dedicam apenas à carreira. Eu me sinto a pior mãe do mundo sempre que converso com amigas que escolheram a maternidade em tempo integral, sabem o nome do professor de natação e etiquetam o uniforme da criança.
O segredo é escolher como referência alguém que entenda a sua dor e o que significa dividir o foco de atenção. Tenho uma grande amiga que é gerente geral de uma rede de hotéis e têm dois filhos. Quando nos falamos, compartilhamos angústias, culpas e conselhos, e ali encontramos conforto.
Você estabelece os seus limites
O trabalho, a maternidade e minha vida pessoal exigem muito de mim, e estão sempre disputando mais e mais dedicação. Eu sou o elo comum responsável por criar limites. É um jogo de estica e puxa em que eu preciso negociar a melhor alocação de tempo possível.
Isso me forçou a ser uma profissional/mãe muito mais pragmática. Ou seja: escolha suas prioridades, equilibre sua rotina e tente buscar paz mesmo diante da culpa.
A liderança feminina
Quando vivemos a maternidade e a paternidade, ganhamos uma chance de ver tudo a longo prazo e uma motivação extra para contribuir para um mundo melhor. A perspectiva sai um pouco de si e muda para o coletivo. Do ponto de vista de gestão de pessoas, ganhei uma visão ainda mais empática da pessoa que mora em cada um dos nossos colaboradores que precisam de tempo e atenção para cuidar de sua vida particular. Somos um só.
Desenvolvi ainda mais a capacidade de delegar. Eu tenho que confiar que as pessoas que cuidam das minhas filhas estão fazendo o melhor trabalho possível. Tenho que distribuir tarefas para o time que faço parte com a certeza de que cada um vai dar conta e fazer o seu melhor.
A caminhada de equidade de gênero no mundo dos negócios ainda é longa. Estudo da Bain & Company e do Linkedin aponta que as maiores empresas do Brasil têm apenas 3% de CEOs mulheres. A pesquisa Women CEOs Speak, da Korn Ferry, mostra que mulheres precisam de pelo menos 30% mais tempo para chegar à posição de liderança do que um homem. Em comum, essas mulheres carregam a vontade de causar um impacto positivo ao redor. A possibilidade de trazer melhorias para funcionários e comunidade foi a motivação para que 68% assumissem a liderança dos negócios.
Como CEO de uma faculdade de tecnologia, quero continuar trabalhando muito para que jovens sejam encorajados a gerenciar suas carreiras e terem sempre o poder de fazer suas escolhas. Vamos juntos?