André Esteves e Ronaldo Lemos participam de painel para turma de calouros do Inteli.
Vivemos em uma era em que a inteligência artificial (IA) não é mais uma promessa distante, mas uma realidade que já está transformando a forma como trabalhamos, nos comunicamos e tomamos decisões. Da automação de processos à criação de novas oportunidades de negócios, a IA está redefinindo o futuro — e o Brasil tem um papel crucial nesse cenário.
Na abertura da Semana de Onboarding para a turma de calouro s de 2025, o empresário André Esteves, chairman do BTG Pactual e cofundador do Inteli, e Ronaldo Lemos, especialista em tecnologia e direito digital, discutiram como a IA impacta a economia, o mercado de trabalho, o consumo de energia e, principalmente, o papel do Brasil em um mundo cada vez mais digital e interconectado. O painel foi mediado pela presidente do instituto, Maíra Habimorad, e recebeu mais de 200 pessoas, entre alunos e pais, dando start na vida acadêmica dos estudantes. A Semana abordou temas como inteligência artificial, tecnologias emergentes, empreendedorismo e liderança.
Confira os principais insights dessa conversa inspiradora:
Formando os Líderes de Tecnologia do Futuro no Brasil
André Esteves, cofundador do Inteli, destacou o potencial do Brasil para assumir um papel de liderança no cenário tecnológico global, enfatizando que a tecnologia serve como um catalisador para o desenvolvimento e inovação. Ele ilustrou a revolução tecnológica ao lembrar: “O homem foi à lua com menos de 0,1% da capacidade computacional que cada um de vocês têm no bolso”.
A fundação do Inteli é o resultado de uma sequência de frustrações que André experimentou tanto na sua formação acadêmica quanto nas limitações que percebeu no sistema educacional brasileiro em relação à demanda global por engenheiros e líderes tecnológicos. O Inteli foi concebido para ser um ambiente onde o pensamento crítico, a liderança, e a inovação não são apenas ensinados, mas vivenciados, com o objetivo de posicionar o Brasil como um líder em tecnologia e inovação no cenário global.
“Queremos construir algo de padrão mundial aqui no Brasil, que nos encha de orgulho. Assim como grandes visionários criaram instituições como Harvard, MIT e Stanford, nós estamos fazendo o mesmo aqui. O verdadeiro resultado do nosso trabalho não se mede apenas pela presença de vocês aqui hoje, mas pelo impacto transformador que vocês terão no Brasil nos próximos vinte anos, da mesma forma que os graduados dessas prestigiosas universidades transformaram os Estados Unidos, levando a inovação e progresso a novos patamares.“
DeepSeek e a Quebra de Paradigmas
Ronaldo Lemos destacou o impacto do DeepSeek, um modelo de IA desenvolvido na China que compete diretamente com o ChatGPT, ilustrando como a tecnologia está democratizando o acesso à inovação. “O DeepSeek é tão bom quanto o ChatGPT nas principais métricas, só que custa uma fração do preço, derrubando o preço das ações da NVIDIA em 10%. Isso mostra que não é preciso um data center de 500 bilhões de dólares para ser competitivo.”
O avanço do DeepSeek desafia a ideia de que apenas gigantes da tecnologia podem liderar a inovação em IA. Treinado com chips de segunda geração e uma arquitetura de software eficiente, ele prova que criatividade e otimização tecnológica podem superar limitações de recursos. Ronaldo reforçou a mensagem de que o potencial para inovação está ao alcance de todos: “Não deixem ninguém dizer que vocês não podem criar algo grandioso em tecnologia.”
Energia, Sustentabilidade e Oportunidades para o Brasil
A transição para o tema da sustentabilidade surge naturalmente, já que a IA não só molda o futuro da inovação, mas também impõe desafios ambientais significativos. Ronaldo Lemos, que abordou o tema em Davos, destacou o impacto do crescimento dos data centers: “Hoje, data centers nos Estados Unidos consomem 6% da energia do país, e as emissões geradas globalmente por esses centros já equivalem às da indústria da aviação.”
Nesse contexto, o Brasil se destaca. “A matriz energética do Brasil é 93% renovável. Isso é uma vantagem competitiva que podemos explorar […] porque não é admissível no mundo de hoje você queimar mais combustível fóssil para alimentar data center”, afirmou Ronaldo.
André complementou: “O Brasil tem uma balança comercial superavitária, a gente exporta minério, petróleo e commodities agrícolas, soja, milho, açúcar, café, etc. Mas a gente pode passar a ser um exportador de dados. Tá na nossa frente essa bola, tá na marca do pênalti, tá fácil de ver.”
André reforçou ainda que, durante a discussão no Fórum Econômico Mundial em Davos, o BTG Pactual criou a “Brasil House”, uma plataforma dedicada a elevar a visibilidade do Brasil e discutir seu potencial e desafios em um contexto internacional. Esteves expressou uma certa frustração com a ausência anterior do Brasil em Davos, criticando a percepção distorcida que tanto governos de direita quanto de esquerda têm sobre o evento, cada um vendo-o como contrário aos seus interesses ideológicos.
Com a Brasil House, Esteves e o BTG buscaram corrigir essa omissão, oferecendo um espaço para que o Brasil pudesse compartilhar suas conquistas e buscar soluções para seus desafios no palco mundial, numa tentativa de integrar o país mais profundamente nas discussões econômicas e tecnológicas globais.
Regulação da Inteligência Artificial: O Desafio de Equilibrar Proteção e Inovação
O avanço da IA também traz desafios regulatórios complexos. Ronaldo Lemos destacou que “o problema de regular a tecnologia é que ela hoje é usada em todos os ambientes da vida humana.” Ele criticou o modelo europeu de regulação da IA, que foca exclusivamente na proteção contra riscos, comparando-o a um time de futebol que só escala zagueiros. “E time só com zagueiro não ganha.”
Para Ronaldo, o Brasil deve adotar uma abordagem mais ampla, para equilibrar proteção, competitividade e inovação. Isso significa criar um ambiente regulatório que proteja os usuários, mas que também incentive o desenvolvimento de novas tecnologias e a competitividade global.
Liderança e Carreira na Era da Inteligência Artificial
Em um mundo cada vez mais impactado pela inteligência artificial, liderar e construir uma carreira de sucesso exige mais do que apenas habilidades técnicas. Para Ronaldo e André, o verdadeiro diferencial está na combinação de competências interpessoais, resiliência e paixão pelo que se faz.
Ronaldo destaca que a liderança na era da IA é a capacidade de “enxergar um tema que é complexo, ele está em várias camadas, e enxergar formas de mobilizar e criar estratégias para você conseguir desempenhar uma atividade ali que seja promissora dentro daquela complexidade.” Ele ressalta que a demanda por profissionais de tecnologia é alta, mas a necessidade de líderes que saibam inspirar, entender o contexto e valorizar o potencial das pessoas é ainda maior: “A demanda por engenheiros é absurda. Demanda por líderes, então. É maior ainda. E eu acho que se você junta as duas coisas, e por isso é beleza, do Inteli desse projeto, é inacreditável.”
Complementando essa visão, André destacou que “o sucesso tem uma alta correlação com a dedicação.” A resiliência também é essencial, pois “vão acontecer coisas insólitas na sua vida. E você tem que ter a capacidade, principalmente emocional, de passar por essas situações e construir acima disso.”
O aprendizado contínuo foi outro ponto central debatido no encontro. “O que você aprendeu há dez anos atrás já não é mais útil para o mundo de hoje. O conhecimento é dinâmico.” André compartilha sua rotina de estudos no banco, onde promove eventos internos para explorar novos temas e se manter atualizado. Ele também destaca o papel da sorte, mas com uma perspectiva pragmática: “A sorte tem uma enorme correlação com a dedicação. É matemático. O que chamamos de sorte é a interseção entre oportunidade e capacidade.”
Por fim, André reforça que o trabalho deve ser uma fonte de realização pessoal: “Fazer o que você gosta faz uma enorme diferença. Não significa que não haverá frustrações, mas você sente que está crescendo, produzindo, melhorando e feliz com o que está vivendo.”
Conclusão
O futuro da inteligência artificial é um campo vasto e dinâmico, repleto de oportunidades e desafios. O Brasil, com sua matriz energética renovável, potencial humano e crescente inserção em debates globais, tem a chance de se destacar nesse novo cenário. Como reforçado por André e Ronaldo, o diferencial está em como aproveitamos essas oportunidades: com liderança inspiradora, regulação inteligente e uma mentalidade voltada para a inovação.
O caminho para o sucesso na era da IA exige mais do que tecnologia — requer visão estratégica, resiliência e a capacidade de transformar desafios em oportunidades. E, para o Brasil, o momento de agir é agora.